terça-feira, setembro 20, 2011

Ilusão

Sente-me na leve brisa

de um acordar terno,

sereno e límpido

Como a face de uma lua

que não se evade.

Antes inspira e ilumina,

a serenidade de um tempo

que não se esconde nas brumas do pensamento.


Escolhe um poiso tardio

e derrama paixões

Iludidas, sentidas e inocentes

Como que procurando por entre as ramagens,

Teu rosto,

Teu conforto,

Teu suspiro,

Teu ser.

Apenas Tu.

segunda-feira, junho 09, 2008

Perdida



Poderia procurar-te em mim,

Desejo fugidio que te escondes,

Sem deixar um rasto que seja,

Para além daquele que me corrói,

O vazio de não te ter.


Vontade entusiástica

Que te fechas sobre ti mesma,

Não permites que uma brecha se abra,

E assim não te consigo alcançar.


Aspiração que te calas de tão tímida

Deixas por ti passar a vida

Não entrevejo qualquer passo

Ficas então adormecida num qualquer regaço.


E eu aqui, procurando algo mais,

Vejo-me no final

Sem qualquer movimento autónomo,

Sem qualquer ambição.


Ser consumido e manipulado

Programado para fazer crer

Algo que não sou eu nem me pertence,

Onde não me revejo nem me encontro.


Quem sou eu afinal?

segunda-feira, outubro 29, 2007

Sinto-me vazia
As ideias já não fluem como outrora,
e os pensamentos são despojados de conteúdo.
Talvez seja preguiça,
talvez seja cansaço.
Ou talvez seja uma ausência desmedida
de tudo quanto me é essencial.
Perco o meu discurso interno,
e perco-me a mim mesma no mundo.
Ser errante em mim emerge,
com tal brutalidade que de tudo se apodera.
Sinto-me vazia,
distante,
apagada.
Talvez seja carência,
talvez seja exaustão,
Não sei...
Mas acredito que um dia tudo passará.
Até lá fico à espera...

quarta-feira, setembro 26, 2007

O mundo é um palco, já dizia Shakespeare



Já te olhaste ao espelho? Não todos os dias antes de sair de casa, a confirmar se está tudo bem e se a imagem que os outros verão no decorrer do dia está em perfeitas condições.Pergunto se já te olhaste ao espelho. A ti. Tu. Não ele(a). Não esse que levas para a rua assim que abres a porta de casa e começas a descer as escadas do prédio ou mal entras no elevador. É esse o período de transição. Entre o actor e a personagem que se lhe entranha por vastas horas, frente a um público que assiste ao seu texto muito bem preparado. O seu papel perfeitamente desempenhado.

Porque o teu dia-a-dia é um teatro. O mundo é um palco onde todos representam e a imagem que confrontamos no espelho todas as manhãs não é o actor, mas já a personagem.

O actor, esse, ganha relevo quando é noite. Enquanto dormes. Durante essas horas de sono em que estás inactivo(a). Sem representações.

Representar o eu na vida de todos os dias, como Goffman o diria, é apresentares-te ao outro, evidenciando disponibilidade directa para encenar a comunicação, a relação entre ambos. Não és tu, mas sim aquilo que advirá com o decorrer da cena. E assim sucessivamente ao longo de todo o dia. Esse grande palco não tem reservas de cenários ou personagens. Tanto é na paragem do autocarro, como no comboio ou mesmo no trabalho.

A essência, essa permanece na penumbra, pois que nem o raio de sol mais clarividente consegue expô-la. É assim. Faz parte. Não encontramos o âmago do ser. Mas ele está lá. São essas duas naturezas do ser humano que o constituem e o permitem ser tão complexo. Apenas uma é exterior, e outra interior, latente. E é sempre, não duvides, a primeira, que vês todos os dias no espelho.

«All the world's a stage,
And all the men and women merely players.
They have their exits and their entrances,
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages.»

William Shakespeare
(As You Like It (act II, scene 7))

quinta-feira, maio 24, 2007

"Ne pas être l'un par l'autre
Ni même l'un pour l'autre
Pas non plus l'un de l'autre
Etre seulement l'un à l'autre
Jusqu'à-ce que rien maintenant
Ni personne enfin, dans le silence
Survivant des deux
Ne retire provisoirement de la circulation
Tous ces mots et images excédentaires
Interférant toujours comme un bruit de fond
Qui détourne ainsi peu à peu
Le centre de gravité du vide".

Fernando Eduardo Carita, Le Salut par le Vide, 2005

segunda-feira, maio 14, 2007



Dorme pequeno atormento, que amanhã retomas toda a tua energia.

Assombra-me durante o dia, que de noite o tempo pára.

Ao menos à noite, enquanto sonho, não questiono... não duvido.

terça-feira, maio 08, 2007


Quem se esfumaça permanece taciturno, até que alguém se lembre dos tempos outrora felizes.
Oxalá isso acontecesse depressa. Ou talvez não.
Por que não assim?
Caminhos que não se cruzam dispensam desvios tortuosos.
[Acontece. É a vida. Conforma-te com isso... Habitua-te.]
*